quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Brasil de Dunga - outra perspectiva

Próximo de completar 3 anos da era Dunga como treinador da Seleção (como diz Galvão Bueno, a única seleção que é conhecida como A Seleção), e após uma vitória suada contra o forte (?) time do Egito, gostaria de fazer uma retrospectiva do trabalho da dupla Jorginho/Dunga na seleção.

A ida de Dunga para a seleção foi uma jogada da CBF de seguir a tendência de grandes seleções em colocar jogadores de passagem marcante pela seleção como treinadores de primeira viagem, como aconteceu com a Alemanha de Klinsmann e com a Itália de Donadoni. O primeiro com relativo sucesso, pois pegou um time desacreditado e fez um bom trabalho na Copa, apesar de não ter ganho dentro de seu próprio país, e o segundo, pegou um time campeão mundial e não conseguiu render o esperado, caindo do cargo precocemente. A Argentina também está seguindo este caminho atualmente com Maradona, com um início preocupante.

É interessante citar estas quatro seleções, pois são as grandes vencedoras do futebol mundial, são 14 títulos mundiais e grandes forças, sempre favoritas. Porque apostar em treinadores inexperientes mas carismáticos para treinar estas seleções?

Primeiro, é a aposta que a camisa vence independente de qualquer coisa. Qualquer pessoa pode fazer uma seleção brasileira vencer a seleção venezuelana (caiu o primeiro mito - Brasil 0 x 2 Venezuela, em 06/06/2008).

Segundo, é a constatação que não existe tempo para treinar as seleções. Exceto em torneios de curto prazo, como as copas continentais, as seleções passam pouco tempo juntas e, quase nunca treinando. Neste caso, o papel do treinador passa a ser muito mais de psicólogo e amigo dos jogadores do que de estrategista. Talvez por isso, Klinsmann tenha ido tão bem na seleção alemã mas foi uma decepção quando treinou o gigante Bayern de Munique.

Terceiro, é que, geralmente, a aposta tem tempo para dar errado e ser corrigida, como Donadoni foi retirado do comando da Itália e Marcello Lippi reassumiu com tempo de arrumar a seleção italiana para a Copa.

Quarto, e talvez o mais importante, é que como é uma grande oportunidade para estes novos treinadores, eles estão muito mais sujeitos a ingerências de patrocinadores ou dos próprios presidentes de confederações, como foi o caso de Dunga com a convocação de Ronaldinho Gaúcho para as Olimpíadas, anunciada por Ricardo Teixeira.

Bem, postos estes motivos, vamos analisar o trabalho de Dunga.

Nos números é incontestável. Líder isolado da Eliminatórias, com diferença de 1 ponto para o segundo colocado (Chile) e de 5 para quem vale mesmo (Argentina). 73,3% de aproveitamento com 26 vitórias e 10 empates em 40 jogos. Campeão da Copa América com um 3x0 sobre a Argentina na final. O tropeço foi somente durante a Olimpíada, mas ele pode alegar que não fez menos que nenhum outro treinador, pois a medalha de ouro até hoje não existe na galeria de troféus da CBF.

Na parte tática a seleção de Dunga ainda gera controvérsias. É uma seleção compacta que joga em contra-ataques, não tem uma variação tática suficiente para quebrar retrancas adversárias, como aconteceu dentro de casa nos empates sobre Bolívia e Colômbia, após vitórias irretocáveis sobre Chile e Venezuela fora de casa. Alegam que o Brasil não tem mais o "jogo bonito", mas seria culpa de Dunga, ou da qualidade dos nossos jogadores ? Temos hoje somente um jogador tecnicamente acima da média e regular, Kaká. Robinho, que poderia ser o segundo, vive momentos de altos e baixos, dentro e fora da seleção. Então, estaria Dunga errado de armar o Brasil de forma compacta ? Os resultados estão aí.

Dunga foi contratado com a promessa de renovação da seleção, e fez isto em certo nível. Na lateral direita, ele encontrou Maicon e Daniel Alves. Não creio que alguém ache Maicon melhor tecnicamente do que Dani Alves, mas que o último deixa muitos mais vazios na defesa que o primeiro também é claro. Uma cobertura mais eficiente e teremos o serviço de um dos melhores laterais da atualidade. A defesa se manteve até hoje e não está dando motivos para mudança (sem contar o jogo contra o Egito), ainda acho que Tiago Silva, se jogar no Milan o que jogou no Fluminense é forte candidato a Copa, nem que seja na reserva. Miranda também. A lateral esquerda até hoje é o grande calo de Dunga, vários testes (Kleber, Juan, Richarlyson, Marcelo,...) e nenhuma aprovação. A bola da vez é André Santos, será que vai cair também na maldição de Roberto Carlos ? Para os volantes, duas ideias conflitantes, a experiência de Gilberto Silva, e a aposta em Felipe Melo. O primeiro não é mais o jogador da Copa de 2002, e está jogando no "galático" futebol grego, mas ainda não comprometeu e é um líder dentro de campo. Apesar disso, é uma preocupação para a Copa do Mundo, apostaria em Anderson, do Manchester United. Felipe Melo me surpreendeu quando Dunga o escalou contra a Itália, jogou bem tanto na defesa quanto no ataque, caiu um pouco o futebol nos últimos jogos, mas continuo achando que é uma boa aposta. Já Elano não aprovou, nem na seleção, nem no Manchester City. Apesar de ter sido um grande crítico dele, o Júlio Baptista hoje seria mais útil a seleção que Elano, apesar que jogar em uma posição diferente hoje no Roma. O trio de ataque é o que temos de melhor mesmo, Kaká, Robinho e Luís Fabiano estão fazendo os gols e são confiáveis. Não preciso nem falar de Júlio César, o melhor do mundo da posição na opinião de Buffon, quem sou eu para discordar ?

Esta é a seleção de Dunga, que parte pro seu segundo torneio de tiro curto, a Copa das Confederações (não conto as Olimpíadas) e é mais um teste para esta seleção até a Copa. Lembrando que após esta Copa, o Brasil pode confirmar sua classificação para a Copa, jogando contra a Argentina em Buenos Aires, mas como depende, além desta vitória, de outros resultados, o mais provável será classificarmos contra o Chile, em Salvador.

2 comentários:

Carlos Henrique Pereira disse...

O que mais me preocupa nessa seleção, e que talvez seja um dos motivos da pouca variação das jogadas, é a concentração da criação das jogadas em Kaká, por falta de opções. A entrada de Daniel Alves cria uma possibilidade pela direita, mas fica faltando alguém para jogar com Robinho pela esquerda. Um bom lateral esquerdo já ajudaria nesse quesito.

Leo disse...

Não gosto de Elano mas até que na seleção ele joga uma bolinha.