sábado, 17 de novembro de 2012

Desfrutemos

Os mais antigos lembram com saudosismo da chamada "era romântica" do futebol: formações ofensivas (4-2-4, 3-4-3...), jogo menos físico, mais técnico, sem tanta rigidez tática, etc. Nesses tempos, eram comuns placares recheados de gols, mais ou menos como as peladas de final de semana que todo bom brasileiro gosta de jogar.

 A vida era dura, hein goleirão?

Equipes míticas como o Santos de Pelé, o Real Madrid de Di Stéfano, eram verdadeiras artilharias pesadas nas décadas de 50 e 60. O maior artilheiro em uma única edição de Copa do Mundo, o francês Just Fontaine, marcou 13 vezes em 6 jogos (!!!) em 1958. Kocsis, superado por Fontaine, havia anotado 11 gols em 1954. A Copa de 54 ainda brindou um 7x5 da Áustria na Suiça (até hoje o jogo com maior número de gols em mundiais) e um 4x4 entre Inglaterra e Bélgica. Desnecessário dizer que esse foi o mundial com a maior média de gols na história (5,38 gols / partida).
 
Bom, aí o futebol "evoluiu" e a farra de gols tirou férias. A preparação física e tática passa a ter uma importância cada vez maior. Goleiros com menos de 1,90m e beques franzinos são cada vez mais raros. Meio-de-campo que não marca, não tem vez. Centro-avante tem que ter porte físico para aguentar os "trancos" dos zagueiros.
O mundial de 90 assumiu a "honra" de ser a Copa com menor média de gols da história (2,21). De 1978 a 2010, o único artilheiro de um mundial com mais de 6 gols foi Ronaldo, em 2002. A Espanha, justa campeã de 2010, é a seleção campeã com menos gols marcados na história (8). A Suíça, em 2006, conseguiu a proeza de ser eliminada da Copa sem sofrer gols. 
 
Pega! Pega!
 
De repente, eis que surge um tal de Messi. Divergindo do biotipo de "jogador ideal", contrariando a tese de que são necessários muitos anos para ser o maior artilheiro de um clube histórico (apenas 25 anos de idade), pulverizando recordes de ninguém menos que Pelé. As cifras de Messi transcedem as cifras da era romântica do futebol.
Na temporada passada já foram incríveis 50 gols na liga espanhola. Com os dois anotados hoje contra o Zaragoza, já são 77 gols em 2012. Nesse quesito, resta apenas Gerd Müller a sua frente, que anotou 85 tentos em 1972.
 
Os ranzinzas podem falar que ele não venceu um mundial. Os exigentes, afirmar que ele só joga com a perna esquerda. Os patriotas podem falar que sem 1281 gols ele não pode ser comparado a Pelé. Os xenófobos podem dizer que ele é "argentino". O fato é que não estamos diante de um fenômeno normal.  Dia após dia, uma página nova na história do futebol é escrita de forma indelével por Lionel Messi.
 
Deixemos o saudosismo no passado e as comparações para o final dessa história. Desfrutemos da era Messi.

Um comentário:

Carlos Henrique Pereira disse...

As comparações são inevitáveis, mas ao mesmo tempo anacrônicas. Em vez de ficar com comparações, temos mais é que aproveitar e assistir ao melhor jogador da atualidade. Certamente, não houve e não haverá outro como Messi.